30 dezembro 2004














Bom dia. Nunca é tarde para se dizer bom dia mesmo quando é a tarde que fica
porque a tarde que precede a manhã e que antecede a noite ainda é dia
e não tem sentido desejar boa tarde, se para mim não existe tarde, existe o dia...
E seguindo o dia vem a noite, tantas vezes fria mas sempre rica se recriando desde cedo, sem hora, sem demora, agora, sem marcação prévia, a qualquer momento
sai-me para fora tudo o que há cá dentro em forma de escrita, poesia...
Bom dia, porque é assim que se começa e se prolonga até que a rua anoiteça,
e dentro do ano haverá dias, haverá noites, momentos em que nunca será tarde
e onde os encontros merecem uma oportunidade para nós, para dois. Boa noite.

26 dezembro 2004

À malta

Malta poeta,
combinam palavras,
cores, paixões e amores,
pegam na trombeta do silêncio
e gritam com sentimento as dores,
as dores que passam cá dentro do momento.

Malta poeta,
combinam sons,
os sons que possuímos
numa mesa vasta e concreta
nascendo de novo sorrindo aos tons
do dia que se quer lindo quando nós escrevemos.

Malta poeta,
combinam letras,
as letras que são de todos,
os todos que são de muitos,
e nós, poetas, que somos poucos
ainda vamos mudar o rumo dos mundos.

22 dezembro 2004

...
e vejo-te a vir
a te veres ao espelho em mim,
nos meus olhos que brilham a sorrir
e no rosto do meu corpo aquele desejo que corre assim,

e vejo-te a vir
a me ver ao espelho de ti,
nos teus lábios a certeza de que vamos existir
ardendo em paixões assolapadas com beijos de aqui por aí.
...
e o ano vem
e nós nos vemos,
corpos se juntam e se têm
por todos os instantes momentos,

e o ano vem
e embriagado serei pelos líquidos,
pois já lhes sinto o prazer vindo de quem fogo tem,
mas antes o natal, um natal bem cheio, meus amigos!
...

18 dezembro 2004

poetizando por aí

Poetizando por ai,
Voltando a origens e à raiz
onde tudo começa, por um verso de onde se renasça
olhando a chuva a cair depressa.
E cheirar as ruas, pedras frias e molhadas
com o sabor de leves toneladas desenhando luas
indo levadas pelos sinais dos pós em pinceladas.
E olharmos, vermos e rirmos
sobre rastos, sobre ritmos, sobre rasgos
e coisas e momentos e gestos sem mesmos,
viajando sentindo no silêncio de uma voz os remos.

Poetizando por ai,
Por ai com letras e palavras
Campo de sonhos e de nadas
Realidade sem espaço
com todos os espaços
e tanta poesia que se junta
tão junta aos lábios e abraços
que se escrevem, que se molham
e que nos dizem para onde olham...
E é poetizando que vou por aí,
por aí
até onde não se pensa ir...

15 dezembro 2004

porque um hino se solta em mim

Porque um hino em mim toca
Em mim vem e acorda
Numa nota que canta este canto
Que grita e pergunta onde mora a vitória,

que em mim um batuque sangra e dança
em mim escorre mais uma gota
em mais um acorde que se bebe que se sonha
que não se cansa e nem se esgota,

que em mim se desperta a glória
neste hino de ritmo em fúria sem hora
que corre solto e livre sem destino
abrindo uma janela que bate com a porta,

Porque em mim um hino se solta e por ti se prova
Esta minha vontade que corre louca.
E no centro onde a vela perfuma a rosa,
Acendo a caneta e com ela te beijo, beijo-te a boca.

11 dezembro 2004

Imagens de um poeta solto

São frescas as imagens das letras
e das palavras que rasgam
linhas brancas de tinta preta,
São frescas as imagens que brotam dos pontos
e dos sinais que apontam
caminhos da direita à esquerda,
São frescas as imagens de todos os tempos
e verbos que se recriam
escrevendo o que se sente com o sentimento,
São frescas as imagens do poeta
que no verso solto mostra a vida,
vida num poema.

07 dezembro 2004

Esverdeando













Que o verde sai da cor
e da cor que sai a sorrir
Pois a sorrir vem o sabor,
o sabor que vem de sentir.

Que o verde sai da cor
e da cor que sai de mim
Pois de mim vem o calor,
o calor que vem de ti.

Que o verde sai da cor
e da cor que sai daqui
Pois daqui vem o amor,
o amor que não tem fim.

03 dezembro 2004

Do banco ao piano (apontamentos de um dia solto que te conto)

:
Hoje é daqueles dias onde de manhã o azul do céu brilha com vida
ocupando o espaço de ritmos e sons ligeiramente chilreados
que aqui se fazem ouvir enquanto lá longe ainda dormes [dormias].
:
Atravessando o rio escrevo versos e do outro lado cheiro as primeiras castanhas
enquanto vou pela baixa ouvindo musica clássica que me arrepia,
entrando nas minhas entranhas essa canção bonita que sai dos violinos...
:
Tenho tempo, e tenho prazer em perder metropolitanos à chegada,
registar pequenos nadas e viver cada caminho por onde andamos.
Fecho o caderno, vou para a aula...
:
Anfiteatro. Fui ao quadro, transcrever transgredindo como mandam as regras
e sentado de novo penso num destino louco que me soe a palavras,
a tempo, a história, e vento e pedras...
:
Derivando por entre essas ruas com parques e árvores em verde,
assento-me num banco de verdade com folhas caídas dos lados que coloram os dias. Escrevo mais uma linha no caderno que comigo caminha...
:
Paro em frente a um lago, descubro uma flor na água,
solto um riso contido e vou seguindo rubro
pondo-me a postos para ver o sol posto na palavra “contigo”...
:
Do piano repousado à beira Tejo erguido até ao fundo,
cai do alto o sol encarnado e vem de novo o fresco que de manhã se sentia
e que me mostrou um imenso desejo em ter aqui esse presente do futuro...
:
Grande prazer de dia, ouvindo Chopin em estado puro...
:
Senti perto teu respirar de flor,
deixei-me ficar em sintonia mesmo sem o toque do artista,
deixei-me ficar no silêncio vindo nesta sinfonia, pensando em futuros perfeitos, Amor.
...




















01 dezembro 2004

frio abrigo














Refugiaste em teus braços
num mundo que carece de abraços,
Tens fome mas já te falta a força
para sair dessa fossa de tempo sem espaço.
De cara suja me dizes palavras
que mal entendo por na língua terem farpas
que arranham um português que se abandona
da voz dessa outra dona que da rua vive e se tapa.
E no copo vazio se vê o podre do mundo que não presta
por ver este corpo ao abandono e nem haver uma mão que resta
e que segure e ampare estes filhos do frio ao vento
e tire da frente dos nossos olhos imagens como esta.