21 outubro 2004

Este ronco que a noite ronca

Este ronco que a noite ocupa
Tem brilho que vem com a chuva
Limpando tudo o que fica para trás
e nem o chão chega a pisar-lhe os pés.
Este ronco que a noite escuta
Tem olhar que não me assusta
Vivendo toda a pedra de erva
em teus cabelos para que escreva.

Este ronco que a noite grita
Tem corpo que até de dia me excita
Como tudo o que é teu e que há muito não via
em espaço de tempo a que lhe chamei vida.
Este ronco que a noite acalma
Tem nome que me acende a chama
Quando teu cheiro me faz tocar outra cor
e provar sob o frio que sopra lá fora o teu calor...

Este ronco zumbe eco
Esta pedra silêncio seco
Esta erva ruído fresco
nesta insónia onde me perco, me entrego perdido e perdidamente adormeço.