30 outubro 2004

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...Se houvesse assim tanta poesia toda seria para exprimir o que senti quando recebi aquele Outono de ti. Quando abri postal e assim de repente eu vi folha que me invadiu o rosto da cara com aquele cheiro que nos leva aos lugares longe daqui. Será tudo de ti, junto com todas as palavras que se escrevem e que se rasgam, que se sentem e que nos olham. E olhar no postal é mesmo sentir que a tinta não seca e que bem viva está a alma perto para existir. Bem viva está a dançarina que nos envolve e a lágrima que se corre a sorrir. Bem viva está a sua doçura castanha avermelhada de peito amarelado que não sucumbe em vir. Bem vivos estamos nós e o mundo que nunca morre perante tanta beleza, tanta beleza de pormenor que nos invade em pequenos toques, e com pequenos toques sentirmos os lugares e as sensações que todos os outros se esquecem de sentir...
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25 outubro 2004

Será amanhecer





















[Fotografia Missy Gaido Allen]
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Será amanhecer o que eu quero
Perto partindo para outro dia
em vida que se acorda estendida
e que à noite escolhe estar perdida.

Será amanhecer o que eu quero
Em cores berrando pelas paredes em ferida
por melodia de diferentes febres em correria
e sabores de cheiro sobre a pedra fria.

Será amanhecer o que eu quero
Despertar encostado a corpo em carne viva
de silêncio tudo nada pouco
por onde me faço, onde me perco.

Será amanhecer o que eu quero
todo aquele que não digo
e pelo qual finjo
mastigo
amanhecer até quando fica tarde de mais
Amanhecer por sinais fugindo contigo.

21 outubro 2004

Este ronco que a noite ronca

Este ronco que a noite ocupa
Tem brilho que vem com a chuva
Limpando tudo o que fica para trás
e nem o chão chega a pisar-lhe os pés.
Este ronco que a noite escuta
Tem olhar que não me assusta
Vivendo toda a pedra de erva
em teus cabelos para que escreva.

Este ronco que a noite grita
Tem corpo que até de dia me excita
Como tudo o que é teu e que há muito não via
em espaço de tempo a que lhe chamei vida.
Este ronco que a noite acalma
Tem nome que me acende a chama
Quando teu cheiro me faz tocar outra cor
e provar sob o frio que sopra lá fora o teu calor...

Este ronco zumbe eco
Esta pedra silêncio seco
Esta erva ruído fresco
nesta insónia onde me perco, me entrego perdido e perdidamente adormeço.

17 outubro 2004

que te quer dar a mão

Chuva que te quer dar a mão
Céu em lágrima
Colorindo sobre o chão mar
A ternura do Outono caindo em folha
Pássaros esvoaçando pelo espaço imenso devagar
Por nuvem algodão de cheiro doce e azul vivo cor de amor.

Chuva imagem tempo ocupado livre em água no cinzento
Céu lavrando sem medo as costas duras de um vento
Colorindo fato lavando de lágrima coração
A ternura horizonte onde seguem
Pássaros que navegam
Por nuvem que te querer dar a mão.

13 outubro 2004

Meu lábio esquerdo























[Fotografia Kelly Green]
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O meu lábio esquerdo
quer-te naquele instante em que digo no beijo palpitado
que me leves contigo,
Com o meu lábio esquerdo
descubro-te naquele momento num sopro molhado
que se agita quente sem medo do perigo.

O meu lábio esquerdo
encontra-te bem no centro num toque iluminado
que te mostra clara a luz no escuro,
Com o meu lábio esquerdo
sinto-te fervilhando nos sentidos num sentimento partilhado
que se ama sem nunca nos deixar perdidos neste mundo.

O meu lábio esquerdo
existe batendo cá dentro querendo saltar para fora
numa vontade de aconchegar o teu cabelo
que eu quero tanto como tudo aqui e agora.

10 outubro 2004

Na noite só

















[Fotografia msdan/Dan]
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Todas as palavras dão lugar a um verde celebrando
que me invade a mente dos encantos molhados
caindo sobre o Outono o pedido amando
a vontade de em silêncio sorrirmos abraçados.
Todas as palavras dão lugar a um verde ardente
ardendo em cores vivas que formam estrelas
nesta noite só onde nada me mente
e onde toda a luz de um frio aquecido entra pela janela.
Todas as palavras dão lugar a um verde que saboreamos
junto com as loucuras segredando ao ouvido a rima
e aí tudo passa a ser nosso e raramente nos enganamos
se sobre a esperança cantarmos a vida no sorriso daquela lágrima.

08 outubro 2004

100 dias





















[Fotografia Keith Carter]
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Quero escrever a poesia e mais 100 dias
enquanto ouço Paredes pendurando nas janelas as portas frias
deste caderno de matas e de sedes que pinto, que incendeio
que desenho, o mistério que componho, e sei-o
com pensamento, num verso que grito
Manifesto, saboreio.

Na minha mão contam-se linhas, verbos e pontos
sinais e letras que são minhas e de todos os que têm esperança,
Sou poeta, não paro, não morro, crio e mais nada interessa
nesta intensa forma sem norma onde vivo nunca morto,
Onde de mim ponho, de mim riu, onde em mim moro, em mim sonho
divagando escolho e recrio os momentos e as loucuras
e em mim acrescento um novo verso em palavras duras tão tuas
que eternamente perdurarão no tempo repentinas ou soletradas ao vento plas ruas.

Sou poeta, sem o querer, sou e não paro de o ser
quero escrever a poesia em mais 100 páginas num abraço
de riso e de choro, de escrita, em dias madrugadas onde a vontade anuncia
as pinceladas serenas enervadas da tinta preta que não termina nas alegrias.
Sou, e os poetas não desaparecem, nunca param, não morrem, nunca partem,
São eternamente e ficam para sempre em toda a parte e dali nunca mais saem.

03 outubro 2004

Sangue rubro

Fotografia Terri Weifenbach



















[Fotografia Terri Weifenbach]
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O teu sangue em pano de fundo azul,
Tua jóia, tua flor semeada
Tua pele despida, teu cheiro beijado
Teu sangue minha vida.
Jardim que vive, teu dia florindo
Na cor que queria, encarnado vivo
Pegando no mundo, teu cabelo rindo
Que resiste a tudo enfrentando esquivo.

O teu sangue em pano de fundo azul,
Teu plano, teu gesto molhado
Tua silhueta mistério, teu perfil baço
Teu pedaço meu sabor degustado.
Jardim que vive, tua noite adormecida
No sonho estrelando, cadente universo
Perpetuando o movimento, tua boca humedecida
Que percorro tonto num prazer imenso.

Em pano de fundo azul está o teu sangue rubro
onde me perco de tanto que o quero
junto com o sol que lhe ferve o tempero.