30 setembro 2004

Nos

momentos onde o tempo parece parar
numa correria desenfreada por esses caminhos
quando nos olhamos tocando nos gestos labirintos
aquela musica que os nossos olhos ouvem a inspirar,
Em locais certos por sítios onde os desertos se enchem de vida
pintando o mar que inunda o céu que despiste
abstraída do tumulto que nos circunda
criando aquele lugar quente que não desiste...

Nos momentos onde o tempo parece parar sobrevoamos o espaço
flutuando por entre as nuvens que desenhamos
por entre os verdes da esperança e do regresso,
Vamos até onde não paramos indo levados
parando somente os relógios mantendo-os acordados
enquanto mergulhamos na vontade e sonhamos
entregues nos dando amando lado a lado.

27 setembro 2004

Poesia

Às coisas estáticas dou-lhes o movimento de palavras vivas e irrequietas
E às pequenas coisas da vida torno-as infinitas,
E criar é o universo todo junto unido às estrelas unindo a nós
a força de uma luz imensa que nos ergue e que nos faz
herdeiros da paz lutando com a palavra
que sempre que nos foge outros apanha
neste mundo que não pára.

Dos troncos faço corpos
E das pedras que ignoramos crio todos os transportes
que nos levam ao vento aos poucos
para sítios repletos de poesia e maresia
que inspira profunda mente fria.
Na hora tardia de uma madrugada
faço nascer um novo dia
e do dia surgindo na alvorada
aponto a luz que se guia por um brilho que se sopra
imaginando o mar à volta
sorrindo como quem sente e chora
aquele sentimento que de qualquer forma se desfruta.

E ser em poesia é uma forma de estar na vida
E viver também é saborear a sua natureza morta
Andar de porta em porta, entrar pelas janelas,
Transformar tudo criando algo de novo,
transportar para o papel a imagem do mundo,
trazer um sorriso para as trevas
e escrever sobre tudo sempre mais profundo
sobre a forma de poemas.

23 setembro 2004

Então vamos

















[Fotografia Chip Forelli]
.
Vamos, vamos numa viagem por onde não sei
ir por onde não digo sobre estes campos de céu
que para nós ali ao canto deste espaço guardei
junto ao teu sol que ilumina infinito amor meu.

Vamos, vamos e nos transportando vai o vento
que ao mesmo tempo que nos leva nos vai lavando os cabelos
tão esvoaçados pelos caminhos que vão estando perto
tão perto que nem chegamos a vê-los.

E vamos, vamos alongar traços na estrada
calcorrear a profundidade dos sentidos
e sentirmos tudo no meio do nada
sem nunca nos acharmos perdidos.

20 setembro 2004

Encarnandos

Fotografia Debe Hale













[Fotografia Debe Hale]
.
Senta-te aqui mais um pouco
Pede um copo, embrulha-te nesse cortinado
e chama por mim mais um bocado...
A janela está aberta para arejar este quarto
e tudo o que lá fora se passa passa-me ao lado
se estiveres aqui dentro onde nunca me farto.

Senta-te aqui mais um pouco
Traz o teu corpo, porque este encarnado precisa da presença
dessa mulher adulta com a alma pura de uma criança...
A sorrir para ti ficarei assim numa brincadeira
naquela alegria contagiando no sorriso a esperança
na paixão escaldante em amar de qualquer maneira.

E senta-te aqui mais um pouco
Onde o tempo vive tudo em cada fôlego
que encandeia o silêncio deste fogo...
Este chão novo não se cansa e deseja muito os teus pés
e por isso entra aqui outra vez e vamos fazer um jogo
em que o teu pescoço me beija e me diz o que és.

17 setembro 2004

Inspira

Inspira-me profundamente
Respira-me até ao fundo
e sente que a vida é o mundo
numa inspiração constante
no mar em terra de frente que me chama de tudo
escrevendo porque é por isto que luto.

Inspira-me profundamente
A madrugada que respira
e sente que mundo e meio adormecera
na sua leve negrura
sobre a jura de novo dia nascer
para que se erga de nova frescura
e o querer.

Inspira-me profundamente
O ar que respira
e sente que a vida é criar-te
na sua pureza dura
sobre a suavidade da vontade
que me aconselha e que me mostra tão pura
a Liberdade.

14 setembro 2004

Essas curvas

Fotografia Derek Mohr
















[Fotografia Derek Mohr]
.
As tuas curvas circundam espaços
Tuas mãos calçam luvas
e teus pés estão descalços
para tocar nessas terras turvas
e saborear o toque das chuvas.
As tuas curvas circundam momentos
Teus braços tocam no mundo
e tuas pernas refrescam os ventos
que pedem para levar tudo
e percorrer os cantos da loucura ao fundo.
As tuas curvas circundam os tempos
Tuas veias são compostas por história
e tua pele tem segredos
que nem se revelam à memória
Eternamente tua, nessas curvas marcadas de vitória.

12 setembro 2004

Por esses ventos correndo,
Bebendo o frio que cai por esses mundos
como a água que madruga
e a mágoa que se mastiga de tanta fadiga e loucura
dita, escrita e falada por esses campos fora
que agora na hora se escuta.
Num momento me descarrilo
e grito como um chato perdido
tocando no umbigo que me chora ao ouvido
e que me lê pedindo por um abismo
por essas árvores em que me agito em ternura
por essas folhas caindo em desgraça dura
e toda a mudança onde me deito sobre a esperança tua.

Quero a vida, a vida num pedaço,
aquela vida que cedo se levanta no regaço
que não se cansa e que não se farta
de compor escrita a criança e a alma
que se afoga e que depressa se renova.
Quero o mar que me convida e quero a sede que se prova
porque sou eu agora o trovador que chora
e que sem demora toca a musica tantas vezes pedida
vezes sem conta e que é esquecida por quem é contra
a harmonia desta vida e do vento percorrido
agora navegado de dia para que à noite renda na despedida
aquela brisa narrada pela poesia que na hora te sopra e te respira...

09 setembro 2004

Dez minutos

Feito de azul e mar o sol que me acolhe em ombros
Andam pesados em voltas aos tombos
caindo se erguendo de novo
para a luta do povo que para a frente se vira
e grita quente num choro
sobre arrepios intensos que a gente respira,

Feito de azul e mar o céu que me escolhe aos poucos
E andar são dez minutos
por caminhos e toques que se beijam como socos
e se apanham com os sustos dos outros
que gritam e que deitam tinta
aos que amargam a doçura esquecida,

Feito de azul e mar o chão que me lembra olhar
Aquilo que não quero esquecer
aquela doce verdadeira paz
que salta meiga com sorriso a ter
a esperança que me faz
o ser para leres,

e andar são dez minutos, já só faltam três...

06 setembro 2004

















São os cabelos que se confundem com as flores
ali ficando com todos os rostos que me sorriem
Nesta bola que é feita de sons e cores
e toda a beleza que permite tu existires.
São corpos que se encaixam em frutos
que neste campo se perdem de vista
Como os universos que são muitos
e como a beleza dessas estrelas que iluminam nossos corações juntos ao dia.

03 setembro 2004

Adiante

Enquanto do outro lado me chama a festa
Bandeira ao alto erguida
Vermelha livre sobre o que resta
Duma sociedade que é esquecida,
Adivinha-se a chuva acesa caindo depressa
Porque o trovejar em cima já se ouve ao longe
Que perto cairá sobre esta cabeça
Neste primeiro dia que é hoje.
A festa da cor de um povo
Que acredita no sonho
E que do sonho nasce de novo
Para este mundo tão em perfeito de tão estranho,
E aqui deixo aquele verso
Antes de ir adiante para aquela paisagem
O meu lume continuará aceso
E no regresso trarei uma imagem.

01 setembro 2004

Inconforme

É dizer que estou inconformado
É querer mais deste prato que raspo
e que quando lavo parto,
É querer mais do que não tenho
do que não posso e do que não quero, é ter o sonho.
É dizer que estou farto
É saber mais fazendo-o revoltado
e ter sangue cá dentro que corre ao lado,
É saber mais sendo o que procuro
sobre o que ganho sem lucro.
É dizer que estou inconformado
É ser o que se seja, ser onde se esteja
e lamber uma boca que não se beija,
É ser o que se vê sem olhar
na planície seca com horizonte no mar.
É dizer que estou farto
É de mim não saber mais
e ir para onde não vais,
É de mim dizer com os pés
que estou farto de tudo, menos do que és.

É dizer que estou inconformado
É querer, saber, ser de mim
e ouvir-te sem escutar o que se diz de ti por aí,
É conseguir rir da vontade, ter o achado e não parar
quando se pensa que amar é um fim para se ficar conformado.