29 agosto 2004

Na escuridão do incerto estou,

A minha cabeça pede por um socorro
Precisa de se entender e eu preciso de ver como a agarro
No silêncio que não se esgota na palavra que se grita
Num grito que se importa por se ouvir sem se ter
Neste coração que pára quando o peito saltita
Quando se quer tanto que nem se sabe o que é querer
Quando pensamos ser o mais feliz compositor artista
Que com a palavra fica acrescentando uma magia escrita...

Na escuridão do incerto estou,
Os meus pés são o instrumento com que varro
O meu corpo foge mas sou eu que corro
Vou para cedo não chegar só à tarde
Para que avance com a coragem sem medo
O medo que é vir a ter fuligem doente nesta saudade
Aquela que me toca o cabelo, que me vê ao espelho por um dedo
E que me ergue de novo à liberdade
Fazendo de um momento o mais derradeiro e bonito de verdade.

26 agosto 2004

Este dia

E este dia de tanto azul e tanta beleza de infinito
de tanto grito a mar sobre um céu lindo e limpo
soprando a breve brisa num aconchego
por onde me aproximo e me esfrego.
E este dia de tanto azul que é o traço negro por fora rasgado
faz-me querer beber tudo num só trago e escrever sobre algo
algo que se brilhe como esta luz por cima luzidia
que se ilumina e que me inspira o dia,
E tanto azul e tanta cor junta
nos horizontes para lá do olhar e da luta
que preciso tanto como tudo
tocando no verso o mundo,
E tanto azul passando sobre o tempo
se abre agora na noite escura o sopro de um vento
mergulhando num vasto negrume de brilho
que me cobre como um manto e me acende ao rastilho.
E este dia de tanto azul que parecia esquecido
olhou-me os olhos aqui sentado
gritando escondido abrindo o caminho descoberto
que abraço, que quero e que descrevo num só excerto.
Este dia

24 agosto 2004

Luz-

Bate-me forte leve o trote que me ilumina o corte
Tão forte como o gesto, a palavra, o sinal e o resto
Que me faz um animal de claridade incerta
Trazendo em cada excerto de imagem e sorte
O desenho em letra que gosto ou detesto
Ali fora, perto do meu peito onde a cruz me acerta
E o desejo onde a luz começa.

Bate-me forte fresca a seda iluminada ao anoitecer
Tão forte como tudo o que somos
Tão forte como tudo o que queremos
Fios e traços entrando pela manhã nos quartos a ter
Alguém por quem nos chamemos
Cá dentro ou ali fora, trajados ou nus, serenos
Sobre o desejo de aurora de mais uma outra luz para sermos.

20 agosto 2004

Dá-me uma ideia
redonda de tão cheia
que não se repita
e que nos veja.
Dá-me uma ideia
que se escreva e que depois se leia
em azul de oiro rupestre
e traço cobre que proteja.
Dá-me uma ideia
um céu que me queira
um mar que me esteja em frente
e estrela que me seja,
Quero-lhe adormecer à beira
junto de um jardim navegado que nos cheire
e o desejo que nos fareja
num beijo que se beije
estando onde se esteja
que se esteja e que se veja
a nossa veia,
Quero uma ideia.

Vem, traz a folha,
Vamos escrever finalmente
a nossa escolha,
Esquecer um pouco os tempos passados
saboreando ventos desejados
tocar no mar da areia
e gritar lá bem alto como dois libertados...

Dá-me uma ideia de como será

18 agosto 2004

O luar de ti

Tenho uma lua de cabelos compridos
despidos ao vento brilhando lindos,
Uma lua de sorriso aberto tímido
que fica cá dentro moendo o juízo inquieto.
Lua do mistério descoberto
onde dou um beijo mal certo
sobre o reflexo do que quero
Lua.
Quanto mais a vejo e piso, mais a toco e sinto
porque ali existe tudo simplesmente
tudo tão acentuado levemente
sem que me minta.
Queria tanto saber se podemos viver assim tão felizes
havendo por vezes umas tempestades de indecisão e incerteza
Lua, que me dás a volta à cabeça
Lua.

E é tão bom quando nos deitamos juntos
quando nos fazemos e recriamos,
É tão bom percorrer as crateras desse luar
e pousar o corpo levitando no terreno
espetando a bandeira no ar como que a marcar território dizendo.
E é tão bom ficar contigo
lua confidente me ensinando
tão quente e eu amando,
Lua que quero viver nem sei como
talvez apenas comendo cada pedaço desse teu luar
cada suspiro ao entrar dentro de ti, lua, minha
Pérola revestida a ouro negro rasgado
mantida em segredo no ar fresco do meu olhar
Como o sonho, o sapato vermelho, o cabelo arranjado
um qualquer jantar romântico e no fim a camisa de cetim...
Porque é a paixão que espreita e o que eu quero é luar
Luar de ti.

16 agosto 2004

E se disser que sonhei contigo?

E se disser que sonhei contigo
que te vi os olhos tão perto e olhei o sorriso
E se disser que fui mais que um amigo
que te leu os pensamentos em mim e fez o que foi preciso.

E se disser que sonhei sobre nós
vivendo debaixo da primeira árvore da próxima estação
Calando com as nossas bocas unidas à voz
a voz que ainda nunca ouvimos mas que nos deu a mão.

E se disser que sonhei tanto
tão intensamente como foi o acordar
E ver que afinal não estavas mas me espanto
por sonhar assim tendo já o desejo tão grande de te amar.

13 agosto 2004

Escreve-me aqui...
















...uma palavra de ti

10 agosto 2004

E encontrámo-nos como se fosse a primeira vez
em que desconhecidos nos conhecemos, reconhecemos
e em que apaixonados ficámos e nos partimos, vivemos,
E agora, passado o tempo, encontramo-nos e estamos iguais
tão diferentes em tudo mas amantes de nós e do mundo
completamente irresistível, estimulante e de mais.

E encontrámo-nos como na primeira vez
a sorrir e sem passado que nos fizesse dizer coisas feias
e rindo sobre ruas cheias e eu cheirando o que tu cheiras,
Por essas estradas, por essas veias saltitando nas horas
por aqui e por ali, e que saudades eu tinha de te ver assim
com o brilho nos olhos a sorrir para mim.

08 agosto 2004

Para quem não me percebe
vai um sopro leve
e quem me olha e não me vê
chega um signo que se lê.

Lê sobre o que escrevo
sobre meu pensamento
sobre teu vento ausente e quente,
Como o manto que nos agasalha
em Inverno terno, lágrima
de repente
e chora e arrefece
e vive
viva de querer
um querer que não se esquece
e se tece para se ver,
E se chega ao anoitece
em mais uma linha de ter ao escrever
enlouquece, endoidece-me o ser...

E para quem não me percebe
vai a brisa de algodão salpicada de sede
saltitando num céu que nos bebe a mente
e que nada, nada nos pede.

06 agosto 2004

Revela















04 agosto 2004

Quero ouvir a música

Quero todo o som que me inspire
para que por momentos respire
sem que ninguém me tire
Ar que se conquista, me faz sonhar e ser e que me liga.
Queria cuidar os que deus castiga
cuidar de quem mendiga
e de quem mastiga
A saliva e a própria sombra.
Queria salvar o mundo da sobra
do resto, do veneno, da cobra
queria lhes dizer uma palavra
Numa palavra sem medo.
Queria ir a tempo, chegar cedo
olhar por um cego lendo por um dedo
que não chega a ser coitado
Porque deste mundo não chega a fazer parte.
Queria ser um daqueles ventos de sorte
e acabar com esta miséria soprando forte
derrubando a doença e a guerra que nos entrega à morte...

Quero ouvir a música,

a música do progresso
a mais bela de todas
a mais bonita por excesso
Porque um dia eu quero entregar as folhas
entregá-las a um verso, um verso cantando de alegria
Um verso que vou escrever à luz de umas velas
umas velas acesas caminhando, presas à vida
para que não se percam as letras
Para que esta janela livre não seja substituída
por pedras e por merdas e por portas vazias.

01 agosto 2004

Águas que se passam sobre um sono acordado

Um quarto para as quatro
Águas sobre um sono acordado
Vindo pesadas em correntes que me pegam
Se apresentam com palavras, charadas, jogos e cartas
Jardins de porcos e salas de varandas quebradas,
Águas passadas, águas passando ao invés
Repartindo a partitura dos elos
Sobre um chão que não chega a pisar os pés
E um céu que não consegue tocar nos cabelos,
São águas sobre um sono acordado.

O suor torna o vento naufragado
E tudo o que possamos fazer sabe sempre a pouco
Apesar de podermos ter tudo aqui e ao lado
Mas teremos sempre de lutar e fazer
De sobreviver ouvindo destino e fado
Vivendo sobre aquilo que acreditamos ser
Fazendo o melhor, o melhor até quando.

E temos tudo, no mundo onde muito não existe
Neste mundo de náufragos que resiste
Derivando entre o choro e o sorriso
Acabando aos poucos o que não se chega a começar
Porque existem sempre outros que mal chegam a nascer
Sem tempo para viver, vivem para logo morrer
Mastigando a terra não cultivada
E o pão não amassado
Bebendo uma outra água que se passa pela epidemia
Que cria a miséria no mundo cada vez mais degradado.

Estou acordado.